28 abril 2009

Obscenidades nossas de cada dia

Mostrei certa ocasião a meus alunos como as palavras e as expressões têm um destino. Nascem, crescem e, muitas vezes, acabam morrendo. Outras vezes se prostituem, ou, quem sabe?, se regeneram. O exemplo clássico é a palavra formidável, que qualquer garota ficaria feliz de ouvir, referindo-se a ela. Será? Vamos ao dicionário: “formidável - que inspira grande temor, que é perigoso/a, que tem aspecto terrificante”. E você sempre dizendo que tem uma sogra formidável, é ou não é? Pois se o Jarbas não tivesse enterrado o latim, dizendo que a sepultura era o destino de uma língua morta, você saberia que formido, em latim, era o nome que se dava ao nosso conhecido espantalho, destinado justamente a causar medo aos pássaros. Formidável, né não?

A propósito, pergunte aos manos aí da sua rua que vem a ser galera. Onze entre dez deles dirá que é um conjunto de torcedores de uma partida de futebol ou de um show de forró ou de rock. Se você disser a eles que, na verdade, galera é “um antigo navio a vela, de mastreação constituída de gurupés e três mastros de brigue”, como diz tio Aurélio, eles te cobrirão de porradas. Palavra, por sinal, que provém de porrete (é uma síncope de porretada) e não deriva de porra, como muita senhora imagina, ao censurar seu uso pelo neto, aquele boca-suja, supondo que estejamos falando do líquido fecundante produzido pelos órgãos sexuais dos animais machos, o esperma, a que, em linguagem chula, porra se refere, tanto quanto esporro e langonha, ainda segundo o mesmo pai-dos-burros, muito embora eu jamais tenha ouvido esta última e medonha palavra, que mais parece nome de ex-diretor do Banco Central. Aliás, muito embora registre que porra! seja uma interjeição, mestre Aurélio dá a ela o sentido de enfado, impaciência, o que é menas verdade, como se diz por aí. Se alguém se admira com algo, lá vem o pô!, que, segundo o mesmo professor, é forma sincopada do termo que ele xinga de chulo. Se eu digo “pô, que mulherão que virou aquela mina!” eu não estarei mostrando impaciência, nem enfado, mas algo muito diverso, como sabeis.

Pois voltemos à minha sala de aula. Para confirmar o preconceito que encobre as chamadas chulices (na verdade, quando falamos em “baixo calão” estamos admitindo a existência de um “alto calão”, que são os palavrões utilizados pelas classes “superiores”), contei aos alunos a história da Tereza, uma prostituta que engravidou e deu à luz o José. Ela era conhecida na região como Terê, uma abreviatura de seu nome, da mesma forma como o filho passará a ser o Zé. E escrevi na lousa: “José é filho da prostituta Tereza”. A classe, a meu pedido, leu a frase, sem atentar para o destino que os aguardava. Depois de algumas considerações, suprimi o nome da mãe, risquei o José e escrevi no alto “Zé”, seu apelido. E fui suprimindo da profissão da mãe dele todas as letras desnecessárias, pois, da mesma forma como de Tereza ela se tornara Terê, eliminando várias letras do nome de sua profissão, teríamos uma abreviatura do nome da tal profissão, composto apenas da primeira e das três últimas letras da palavra prostituta. E pedi à classe que lesse o resultado. “José é filho da ...” O número de alunos que conseguiram falar foi mínimo, embora eu estivesse querendo dizer a mesma coisa que eles haviam dito antes.  

Isso para não falar da aluna que eu havia reprovado e que se expressou sem meias palavras: “mestre, você me fudeu!” Verbo esse, aliás, empregado por um advogado para ameaçar um oficial de justiça: “você comigo está fodido!”  Pois tal ameaça redundou em denúncia e condenação. O recurso caiu nas mãos de ninguém menos do que o Alberto Silva Franco, que deu por não caracterizada ameaça alguma, pois a palavra empregada era inespecífica. Ou, mais exatamente, plurívoca. E pode até mesmo ser elogiosa, conforme as circunstâncias, como quando designa valentia: “fulano é um sujeito fodido!” No dia do tal julgamento, a galeria (conjunto de espectadores, que os americanófilos e os comedores de mac-lanche denominam “audiência”, que, como sabemos, é sessão de julgamento judicial) estava repleta, para ter o prazer de ouvir o Silva Franco falar, vezes e vezes, a tal obscenidade. E ele, que é, de fato, um cara fodido, assim o fez. Quem diria!

Falo também (o trocadilho foi involuntário) da distinta senhora que, numa festa, se gabava de haver esculhambado seu desafeto em uma discussão. Apenas por curiosidade, perguntei-lhe o que ela havia feito com os colhões do homem, o que gerou um esporro daqueles, para continuarmos na chulice. E eu fui obrigado a recuar, sem que os presentes percebessem que eu estava indo com o cu para trás, mesmo porque poucos se dão conta da origem da tal palavra. E se numa reunião os componentes de um grupo também forem recuando e alguém ficar sozinho, ele certamente comentará que “ficou na mão”, sem atentar que se está referindo à situação de alguém que, tendo sido abandonado pelo companheiro ou a companheira, não terá outra forma de aplacar a inaplacável libido senão pela masturbação.

E olhe que eu poderia falar sobre as flores, essas maravilhas que Deus espalhou na Terra para encanto de nós todos, que não atentamos para o fato de serem elas, ao fim e ao cabo, o órgão sexual da planta. Olhe para um hibisco, por exemplo, e veja se há algo mais obsceno na Natureza. Ou uma orquídea. Cujo nome, aliás, lembra uma espécie que continha um talo e duas bolotas embaixo, donde o nome escolhido pelo seu nominador: orchis (em grego, “pênis”) e idéa (em grego, “aparência”).

Pensando bem, como as crianças estão entrando na sala, acho melhor fechar o meu dicionário, esse repositório de obscenidades, escrito pelo Aurélio, aquele fescenino, cujo “sobrinho” nos mandou jogar bosta na pobre da Geni. 

22 abril 2009

O Filho do Juiz [1]



      Hoje meu pai voltará para casa. Depois de tantos anos ausente, retornará ao nosso convívio. Parece que o feitiço terminou.

Foi aqui que tudo começou. Foi por aquela estrada pedregosa que o feiticeiro veio, empurrado pelo populacho ululante. Caiu por duas vezes ao fazer aquela curva, sendo consolado por uma sirigaita, que parecia ser sua amante. E mais ali adiante foi que lhe deram fim, o merecido fim, no alto daquele outeiro. O Morro das Caveiras. Só o nome me traz arrepios. Um merecido fim, realmente.

Tenho nos olhos ainda as cenas, como se tivessem ocorrido ontem. Parece que estou vendo a soldadesca a tirar a roupa do feiticeiro, preparando-se para a execução. Era um prisioneiro altivo, com ar arrogante, como se fosse inocente. Um farsante completo. De onde viera? Com certeza dos infernos, onde aprendera a arte da dissimulação e do embuste. E a agitação social que ele ia provocando, com suas palavras insidiosas, com o pretexto de defender os pobres e injustiçados? E sua desconsideração para com as leis e as autoridades legalmente constituídas? A lei e a ordem, preceitos máximos insculpidos em nosso coração, sendo ultrajados. E nós deveríamos ficar silentes? Onde iria parar tudo isso se meu pai não tivesse dado um basta? Esse nacionalismo zelotense inconseqüente, xenófobo, jogando nosso povo contra nossos fiéis aliados, os nossos colonizadores? Permitamos isso e estaremos acabados.

Agora parece que estou vendo erguerem-no na trave. Vejo-o lá no alto, olhando-nos, como se nos interrogasse. Ou nos julgasse.

“Tenho sede”, resmungou o condenado, do alto da trave.

“Como dizes, ó bruxo?”, perguntou-lhe um dos soldados mais divertidos. “Queres água? Pois terás a água e a oportunidade de repetires uma das tuas mágicas preferidas.”

Saindo dali, o risonho soldado dirigiu-se a um dos rapazes, deu-lhe uns trocados e, com sua autoridade, mandou-o comprar do vinho mais vagabundo. “Veja que seja o pior”, recomendou enfaticamente. Dentro de pouco tempo, voltou o rapaz com o vinagre. O soldado embebeu nele uma peça de tecido imunda e, com a lança levou o pano embebido aos lábios do condenado.

“Dizem que transformas água em vinho. Quero ver-te transformar agora vinho em água”. E ria e ria.

Bem que o bruxo mereceu. Que lhe fizera meu pai? Acaso foi injusto ou grosseiro com ele? Deixou de ouvi-lo? Impediu-o de defender-se? Nada disso. Muito pelo contrário, quando o trouxeram preso, meu pai ainda lhe deu oportunidade para retratar-se, assegurando-lhe o sagrado direito de defesa.

“Quer dizer que tens poderes sobrenaturais? Curas? Levitas? Fazes cegos verem e cochos andarem? Julga-nos idiotas?”

A resposta que o prisioneiro lhe deu bem que merecia uns dentes arrancados. Ou a própria língua. Pelos menos uma bofetada. Nem isso meu pai lhe deu.

E quem o condenou à morte? Acaso foi meu pai? Não. Digo que não e não. Foram seus amigos, os aprendizes de feiticeiro. Eles é que decretaram, com seu silêncio, a morte do seu tão falado mestre.

Com efeito, quando meu pai consultou o povo sobre o destino dos prisioneiros, os amigos do outro criminoso estavam lá, no meio da ralé. Sem temor, levados pela admiração a seu líder, eles orientavam o povo a preferi-lo ao bruxo. Um criminoso comum não interfere no juízo das pessoas. Leva-lhes a vida, ou a fortuna. Mas nenhum desses criminosos provoca comoção social. O homicida não mexe com nosso comodismo diante da vida, nossa prudente passividade diante da autoridade corrupta. Um criminoso comum tem seu preço. Basta que paguemos o preço, tolerando sua convivência conosco, como fazemos com os políticos, ou afastando-o do convívio das pessoas por tempo suficiente, para termos paz. Já um fanático, não. Esse tem um poder mágico diabólico. Com uma fala mansa, um jeito de aparência inofensiva, ele introduz no coração dos homens a semente da cizânia, da desconfiança. Leva filhos a encararem os pais, sem respeito nem temor. Leva súditos a questionarem ordens, a duvidarem da seriedade dos governantes.

Pois os amigos do bruxo silenciaram. Talvez no fundo nem eles acreditassem em seu mestre. Se acreditavam, onde estavam se não ouvi uma só vez o nome dele ser pronunciado na multidão. E foi meu pai quem o condenou, então? Claro que não. Foi o povo, foram os jurados, pois vivemos em uma democracia. E foram os amigos dele, que silenciaram, admitindo sua culpa, quando deveriam lutar por ele. Tanto que meu pai publicamente lavou as mãos, para isentar-se de culpa.

E foi aí que o feitiço aconteceu. À medida que o bruxo era levado para o local da execução, as mãos de meu pai foram apresentando umas manchas muito estranhas. Alaranjadas a princípio, foram-se tornando vermelhas em poucas horas. E aquelas manchas vermelhas, cor de sangue, visíveis à distância, passaram a incomodar meu pai terrivelmente. Inicialmente ele procurou não dar muita importância a elas. Mas a preocupação de lavá-las a toda hora foi-se convertendo paulatinamente em mania. Logo, era autêntica obsessão compulsiva. Uma compulsão diabólica. E até parece que quanto mais ele as lavava, mais viva ficava aquela cor. De nada adiantaram os ungüentos, nem os banhos. E meu pai não suportou esse peso. Sem dormir nem comer, gesticulando e andando sempre pela casa, tornou-se outra pessoa, como possuído por um espírito imundo. Interná-lo tornou-se necessário, até mesmo para evitar que consumasse o suicídio, tantas vezes tentado.

Agora ele volta do sanatório, onde nossos melhores médicos após tantos anos de insistência, parece haverem conseguido tirar de suas mãos as manchas e de sua cabeça a loucura. Dizem por aí que foi um médico amigo e seguidor do bruxo quem o curou. Bruxaria cura-se bruxaria. Um tal Lucas, médico de homens e de almas, como dizem. Não creio, porém. Quem acreditaria que um homem tão competente, como deve ser esse médico, acreditaria nas mentiras e promessas absurdas feitas por um feiticeiro vulgar?


[1] Do livro Cristo Hoje, Editora Loyola (esgotado)

07 abril 2009

A galinha

A galinha da Clarice passeava calmamente no telhado do sobrado. Era uma galinha gorda, penas pintalgadas, dessas que alimentamos durante meses e que são sacrificadas às vésperas de um dia especial, desde que as crianças a ela não se tenham afeiçoado, vindo então a implorar que à ave se lhe dê destino outro que não a panela que a ela estava desde sempre destinada.

Não era como a galinha do Virgílio digo-o desde logo, para que dúvidas não haja. Imagine uma galinha daquelas ali, posta por alguém que nada mais tivesse para fazer e houvesse dado a si o trabalho de galgar o telhado, a caminhar cuidadosamente de telha a telha, sempre no prenúncio de que uma delas se partisse, como é das estatísticas, a criar a necessidade de ser substituída, não me vá a chuva por ali cair sobre o teto e surgirem goteiras na sala de visitas ou, muito pior, num dos quartos da casa. O que, à sua vez, criaria a necessidade de alguém, talvez ele mesmo, o desastrado autor do dano, ali voltar ao telhado, trazendo consigo nova telha para substituir a que se partira na vez anterior. A criar-se novo risco de novas telhas partirem-se, a criar-se a necessidade de alguém ali retornar, talvez ele mesmo, para substituí-las e assim repetir-se essa lenga-lenga ad infinitum.

Era, em súmula, uma galinha de carne, osso e penas.

As pessoas que se dignavam de olhar para cima, com o risco de meterem o pé em algum buraco da calçada, abrindo uma das mãos, que levavam perpendicularmente à testa, à maneira de um aparador que lhes toldasse os possíveis efeitos dos raios solares incidentes sobre os olhos atrevidos, indagavam-se o que fazia aquela galinha naquele local. Alheia a tais comentários, talvez por falta de orelhas ou em razão da distância, a galinha da Clarice caminhava lentamente, como é próprio dos galináceos, dobrando, sucessivamente, cada perna, até porque, se dobrasse ambas ao mesmo tempo, não andaria, sentaria.

E caminhava para diante, mesmo porque galinhas não dão marcha-a-ré. Aceleram, quando se faz necessário, como se um galo no diuturno cio com ela cisme e manda a pudicícia galinácea que ela se faça de rogada e não aceite desde logo a corte, pondo-se a correr em círculo, sempre a ser seguida e perseguida pelo galo que a todos deseja mostrar quem é que manda no terreiro E lá longe, alheia aos olhos curiosos e pudicos dos presentes, ela se dignará de abaixar-se, para que ele a monte e depois, sexualmente satisfeito, dela desça e faça um rodopio, como se dissesse “de que te valeu correr tanto?” E ela então se levantará e se sacudirá toda, espadanando as penas, como a querer eliminar delas todos os vestígios do natural ato que acaba de praticar, sabe-se lá se voluntariamente ou não.

Mas ali, no alto do telhado da casa, não havia porque nem como correr em círculo, até porque galo algum ali subiria apenas para dar vazão à libido, presumindo-se ajam os galos com prudência mínima.  

Pois à medida que a galinha da Clarice, não a do Virgílio, ressalvo segunda vez, dobrava a perna, o que fazia lentamente, como é próprio das galinhas desde o início dos tempos, se permitido for fazer uma tal suposição, ela também lentamente recolhia os magros dedos, dada a evidente inutilidade de mantê-los empalmados, como a dar adeus a fantasmas. Mas, à medida que a perna voltava, também com lentidão, a esticar-se, os magérrimos dedos iam-se afastando uns dos outros, como a formar, mecanicamente, uma esquelética flor, que ela exibia a ninguém.

Enquanto caminhava pelo telhado, valendo-se daquele caminho natural formado pelo encontro das telhas que vinham de um lado e de outro, da direita e da esquerda, unindo-se ali, naquele cocuruto, e casadas uma a outra por um outro tipo diferenciado de telha, dita telha de arremate, a galinha da Clarice olhava, também sucessivamente, à direita e à esquerda, como se aguardasse aplausos ante o seu atrevimento de, menos votada ao vôo como tantos de seus parentes distantes, passear atrevidamente a tantos metros do solo. Galinha pensa?

Lá embaixo, alguns desocupados ou, talvez, preocupados com a possível extinção da espécie, acompanhavam aquela marcha da galinha, algo digno de soldados vietnamitas em parada militar. E ela alheia a tudo e a todos, sabe-se lá se ainda tem mãe, a qual certamente aflita estaria, se existente, ante aquele despropósito galináceo.

Eis que dois pombos, não mais do que dois, assentam-se no alto do telhado, naquela espécie de coluna vertebral que a maioria dos telhados apresenta, ali posta, não para suster costelas, mas para dividir o telhado em duas águas, como diz o vulgo, até porque a galinha da Clarisse passeava caminhando exatamente ao longo daquela longa e falsa coluna vertebral.

Que faz ela, ante a inesperada visita? Que fazem essas duas aves cá no alo, uma delas a girar em círculo sem sair do lugar? Pasma, a galinha da Clarice simplesmente sustém o passo, mantendo a perna dobrada e os dedos recolhidos, como é próprio dessas aves em tais momentos de indecisão. Que quer esse casal postado em meu caminho? há de ter pensado a galinha, se aceitarmos que as galinhas de fato pensam, minúsculo que seja seu cérebro, como sabemos todos nós. Ou haverá quem se tenha refestelado a comer cérebro de galinha, tal como se come os de boi ou de vaca, ditos eufemicamente miolos?

O fato é que essa vacilação galinácea custou-lhe a ela a vida, pois o rapaz da casa surgiu num átimo de segundo e a agarrou por uma das asas, levando-a, por mais que ela resistisse, para a casa, onde, não havendo crianças nem tendo ela botado ovo nenhum, mataram-na, preparam-na à cabidela, comeram-na com quiabo e arroz branco.

E passaram-se anos. Muitos e muitos anos.  

02 abril 2009

Mini-conto (II)


Ambos chegaram cansados. Sentaram-se num tronco de árvore, deixando as pastas do lado. Afrouxaram a gravata e se puseram a conversar.

- Lembras do Silva?

- Aquele um moreno, de bigodes?

- Sem bigodes. O que imitava peixes. Nunca vi imitador igual. Imitava truta, golfinho, bagre ...

- Mas golfinho não é peixe.

- Mas ele imitava golfinho.

- Então ele imitava mais do que peixe.

- Mais do que peixe, mas especialmente peixe: imitava bacalhau, salmão. Imitava lúcio, sôlha. Imitava lêmure.

- Lêmure é peixe?

- Sim, lêmure é peixe. Imitava marlim, peixe-serra ...

- Grande imitador, hein?

- Pois é. Morreu.

- De quê?

- Afogado.

- Que ironia do destino. O nosso Silva morrer afogado.

E mais não disseram. Dali mesmo levantaram vôo, pasta embaixo do braço. Lá foram eles, em direção ao sul, imitando pássaros. Canários, ou pelicanos. Talvez gaivota ou morcego. Sei lá. Não entendo muito de aves.